Igualdade e Cidadania

O antropólogo Roberto DaMatta concedeu hoje (09/11/10), à rádio CBN, uma entrevista acerca do lançamento de seu livro Fé em Deus e pé na tábua. A seguir, a sinopse do livro e a entrevista, cujo teor instiga a várias reflexōes sobre igualdade, democracia e cidadania.

SINOPSE

“Na rua, a democracia e o bom senso ali requeridos se invertem, e a maioria descobre, sob pena de ser sistematicamente agredida ou perder a vida, que aquele espaço pertence aos que estão dentro de seus respectivos veículos ou montados em suas motos”.

É o que afirma o antropólogo Roberto DaMatta no prefácio de seu novo livro, Fé em Deus e pé na tábua, uma análise sobre o comportamento do brasileiro ao volante. O livro, escrito em parceria com João Gualberto M. Vasconcellos e Ricardo Pandolfi, nasceu de duas pesquisas, encomendadas pelo Governo do Estado do Espírito Santo, com o objetivo inicial de melhorar o trânsito na área da Grande Vitória e do restante do estado. Na tentativa de ultrapassar as receitas e lugares-comuns que sempre remetem à educação no trânsito, o autor faz uma análise antropológica da dinâmica do sistema de trânsito, de como atuam e o que pensam seus atores (pedestres, motoristas, caminhoneiros, motoqueiros, ciclistas).


Simone de Beauvoir e o Segundo Sexo

Simone Lucie-Ernestine-Marie-Bertrand de Beauvoir nasceu em Paris, em 1908.

Forma-se em filosofia, em 1929, com uma tese sobre Leibniz. É nessa época que conhece o filósofo Jean-Paul Sartre, que será seu companheiro de toda a vida.

Em 1945, ela funda, com Sartre, o combativo periódico Les Temps Modernes.

Escritora e feminista, Simone de Beauvoir fez parte de um grupo de filósofos-escritores associados ao existencialismo - movimento que teria enorme influência na cultura européia de meados do século passado, com repercussões no mundo inteiro.

Em 1949 publica O Segundo Sexo, pioneiro manifesto do feminismo, no qual propõe novas bases para o relacionamento entre mulheres e homens. Os Mandarins é de 1954; nesse mesmo ano, Beauvoir ganha o prêmio Goncourt.

Ela e Sartre visitaram o Brasil entre agosto e novembro de 1960; foram também a Cuba, recebidos por Fidel Castro e Che Guevara. Sempre tiveram marcada atuação política, manifestando-se contra o governo francês por suas intervenções na Indochina e na Argélia; contra a perseguição dos judeus durante a Segunda Guerra; contra a invasão americana do Vietnã e em muitas outras ocasiões.

Simone de Beauvoir morreu em Paris, em 14 de abril de 1986. Entre seus muitos livros, vale ressaltar O Sangue dos Outros (1945), Uma Morte Muito Suave (1964) e A Cerimônia do Adeus (memórias da vida com Sartre, 1981).

Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u131.jhtm





A condição do homem civilizado à partir do filme 'Instinto'


Ethan Powell (Anthony Hopkins) é um antropólogo que foi pra Uganda pesquisar a vida dos gorilas e lá passou um tempo vivendo como “um integrante aceito” no grupo desses antropóides. Mas acontece uma trama onde Ethan é acusado de crimes ambientais e acaba sendo extraditado para os EUA.
Nos EUA ele é encarcerado em uma prisão famosa por abrigar criminosos psicopatas do mais alto potencial. Na prisão, o médico Theo Caulder (Cuba Gooding Jr.) vê em Ethan um grande material para desenvolver uma pesquisa para se consagrar enquanto psiquiatra. Nesse ínterim as coisas tomam rumos bem diferentes, onde “cliente” e “terapeuta” fazem parte de um papel só.

Essa é mais ou menos a sinopse do filme Instinto (Instinct, 1999); insossa como costumam ser as sinopses – de livros e filmes.

Antes do que virá, uma nota: quero deixar claro que as pontuações abaixo não pretendem fazer parte daquelas “críticas de cinema” que querem enquadrar o filme em “verdades”, como se fosse possível dizer que um filme é isso ou aquilo, senão o que se apresenta aos olhos do espectador de acordo com sua visão de mundo. Pretendo apontar algumas considerações de acordo com a minha perspectiva sobre o filme em um dado momento. Para além de apontar críticas ou elogios sobre enredos, atores, tramas e desenvolvimento, serão pontuadas algumas questões para reflexão sobre o homem, a civilização e os animais.

Outra pontuação é sobre a imagem que optei nesse post, ao invés de utilizar simplesmente a ilustração do filme em cartaz . Sei que a foto é chocante, pensei muito antes de utilizá-la, mas também não é uma montagem, é uma triste realidade, que talvez sirva para tirar o mundo dos trilhos e nos levar a (re)pensá-lo; em um momento onde vemos a técnica (o mundo da tecnologia e da racionalização - da instrumentalização), ser cultuada, talvez, como nunca antes; e a vida se perde dando lugar ao que os produtos da técnica criaram: a vida se torna enquadrada antes no que a técnica dita.

Instinto é um daqueles filmes que podem colocar nossos pensamentos dem chamas, onde ficamos “paralisados”, após o término, acompanhados dos créditos que passam desapercebidos como se fossem pano de fundo.

A questão filosófica central gira em torno da antípoda civilização x “selvagem” – com aspas para sinalizar que selvagem não está empregado no sentido pejorativo como costuma ser usado pelos civilizados.

Powell acabou se encantando com suas observações sobre os gorilas, uma espécie que continua sendo brutalmente caçada pelo homem. Todos os dias ele contemplava um grupo desses símios na Uganda e retornava à sua cabana. Mas isso acabou não sendo o suficiente, o encanto de Powell necessitava de algo mais.

Sem planejar, avisar a família e a guarda florestal de Uganda, Powell largou tudo e passou a viver integrado no grupo dos gorilas, pois percebeu que ele era aceito: “os gorilas aceitaram-me, não como um membro da espécie, mas como um diferente.”

Daí surge algo que impressionou Powell: os gorilas aceitaram uma espécie diferente, coisa que ele não encontrava entre os humanos que costumam não aceitar nem os seus semelhantes.

Convivendo com os gorilas o antropólogo se vê longe daquela “necessidade” de sempre querer mais além do necessário – o acúmulo de riquezas -; além do extermínio intra e inter espécie – algo que só os humanos fazem. A civilização é doente e terrivelmente mefítica quando Powell se vê diante de uma paz na vida selvagem com os gorilas que ele pontua e enfatiza: uma paz que os humanos não são capazes.

Se antes Powell havia partido com a intenção de elaborar estudos teóricos sobre os gorilas, um material que serviria à ciência, em meio ao grupo ele abdicou da civilização. O mundo sustentado pelas palavras e teorias inventadas pelo homem se esvaeceu por completo, restando somente a contemplação, o encanto, o mistério: a vida vivida e não explicada. Algo que Heidegger pontuava como a clareira do ser.

Essa condição não se trata de misticismo, mas um modo de existir do homem para além do mundo desencantado pela técnica e racionalização, aquele que só é visto através de conceitos, idéias, palavras e dados empíricos. O encantamento do homem diante do mundo é o encontro do sentir com o inefável onde nenhuma palavra é capaz de sustentar aquele modo de existir.

Isso não significa uma oposição à ciência, mas compreende esta como apenas um meio que poderia ser utilizado para intensificar o viver, sabendo-se que são meras ilusões, desautorizando-a enquanto palavra de verdade, pois o mundo é legítimo em seus enigmas e conflitos insolúveis. A ciência é destronada do trono que ela ocupou após destronar Deus, pois o existencialismo entende que o homem está sobre um abismo sem fundo e sob um céu vazio: lançado ao nada. E esse nada não é aquele niilista, é uma condição humana reconhecida e que, justamente a partir dela, do nada ser, que o homem pode inventar infinitos sentidos para a vida.

Powell, com os gorilas, vivia sobre um abismo sem fundo e sob um céu vazio, experimentava a vida de uma forma como nunca havia antes, contemplava o existir tal como ele se apresenta, estava diante do encantamento do mundo: sem palavras e sem idéias, sem civilização. O viver era vivido e sentido, despreocupado com o explicar.

Mas uma trama armada pelos policiais florestais de Uganda acaba fazendo com que Powell se torne um criminoso psicopata. Essa parte é uma das mais chocantes do filme e será preservada de revelações ;)

Extraditado para os EUA, Powell não emitia uma palavra, uma expressão humana e se apresentava como um “selvagem”, ninguém, nem mesmo a filha, conseguia sensiblizar Powell para estabelecimento de comunicação: estava na civilização, mas havia abdicado dela, seu espírito estava lá na selva, junto com os gorilas.

Powell foi encarcerado em uma prisão para psicopatas potenciais, sob a vigilância constante, pois era temido visto que aprendeu com os gorilas a força e a luta, o que fazia necessário vários homens para pará-lo. Na prisão, os métodos eram aqueles clássicos que consagrou a psiquiatria, em seus primórdios, como ciência de correção absolutamente em conluio com os meios de poder.

Tortura, sedação através de altas dosagens de psicotrópicos e brutalidade eram os meios utilizados por policiais e pelo psiquiatra da prisão. – Algo que infelizmente ainda subsiste na mentalidade, principalmente, dos órgãos governamentais.

Lá, Theo, viu em Powell um excelente caso para estudar e se consagrar como psiquiatra, pois até então, nenhum médico conseguiu arrancar uma palavra do antropólogo. Inicialmente Theo se mostrava como um desses novatos que receberam o diploma e acreditam que os métodos científicos revelariam facilmente os “segredos da vida”. Após algumas sessões e com muita dificuldade, Powell usou-se da “civilização” para se comunicar com o civilizado Theo.

Ao longo desse relacionamento o jovem psiquiatra compreendeu a situação de Powell e se deparou com o desmoronamento da ciência; percebeu que somente os meios e técnicas científicas eram insuficientes e por vezes caducos diante da complexa realidade; o promissor psiquiatra passou a não mais querer buscar a “verdade” em Powell para ser revelada em uma “tese científica” e passou a viver uma relação cliente-terapeuta e não cliente e terapeuta. A separação objeto e observador deixou de existir entre os dois e ambos passaram a se relacionar como seres humanos, onde um é afetado pelo outro. Theo e Powell faziam um para o outro, o papel de cliente e terapeuta juntos.

Theo conseguiu realizar algumas mudanças na prisão. Criou métodos mais justos e que não implicava em violência, o que acabou por desagradar as autoridades governamentais que iriam acarretar uma série obstáculos, por vezes sujos, para o psiquiatra e os detentos. Mas Theo havia conseguido mudar a mentalidade dos detentos e do psiquiatra local, que passaram a ver no respeito e na compreensão, elementos para substituir a violência – algo que até então era o exemplar.

Durante a trama, Powell, o civilizado que compreendeu os “selvagens”, agora compreendia ambos os lados; e o lado soturno para ele era o dos civilizados, os verdadeiros “selvagens” no sentido pejorativo. Conseguiu expor suas idéias a Theo, estabeleceram um vínculo favorecedor e tinham momentos juntos livres da vigilância, onde o antropólogo muito temido chegava até a ser liberado das algemas. Theo conseguiu uma audiência para que Powell pudesse expor as injúrias e toda trama que o colocaram na condição de um criminoso psicopata.

Mas os obstáculos eram muitos. O diretor da prisão era autoritário. Alguns policiais provocavam Powell e os presos para que situações fossem criadas onde eles pudessem usar violência e culpabilizar os detentos – algo não muito diferente do que muitas escolas e outras instâncias governamentais, ainda hoje, costumam fazer.

Daí em diante, só mesmo assistindo ao filme que se mostra muito instigador para refletir sobre o homem civilizado que inventou o papel de superior para si mesmo diante dos selvagens que vivem na natureza e que também, pelo homem, foram colocados na condição de inferiores. Powell traz em tona o quanto os homens não compreendem os “selvagens” e o quanto a vida civilizada é deturpada em seus significados.

Powell encontrou no meio dos gorilas e na vida selvagem uma vida autêntica, longe dos jogos perigosos que se armam na civilização. Os humanos correm todos pela paz, mas suas ações causam conflitos, um quer se sobressair diante do outro. A paz, tão desejada pelos humanos, sentimento colocado no altar, quem diria, está entre os “selvagens” e não entre “nós civilizados”, diz-nos a mensagem de Powell.

Longe de ser um filme romântico e moralista, o filme mostra os obstáculos que irão surgir caso a civilização queira abandonar a si própria e desejar o selvagem, como o próprio Powell experimentou. Também não é um filme que irá apontar deveres dos homens, não aponta que os homens devem voltar a andar sobre quatro patas, como diria a critica de Voltaire à obra de Rousseau. O filme suscita o pensar sobre o extermínio dos animais pelo homem, do homem pelo homem, dos problemas que a civilização também cria entre outras questões, deixando em aberto um vasto horizonte para o animal homem pensar a sua própria condição.

Powell, o “selvagem”, ensinou o civilizado Theo, e este ensinou o selvagem, que por fim, parece ter compreendido que uma vez nascendo no seio da civilização não seria uma simples questão de escolha optar pela vida na selva; mas nem por isso se rendeu à civilização: encontrou-se com a clareira do ser heideggeriano


Fonte: http://www.eternoretorno.com

Então você pensa que é ser humano?


Sinopse Completa

Neste livro, Felipe Fernández-Armesto conduz o leitor por diversos campos do conhecimento humano, da história à robótica, para mostrar que, no fim das contas, não devíamos ter tanta certeza assim do que é um ser humano. A visão biológica do que seria um ser humano, fundada na diferença corporal, torna-se bem nebulosa depois do mapeamento genético - estamos muito mais perto dos "parentes" símios do que gostaríamos de admitir. A abordagem cultural também se revela falha. Em experimentos de laboratório, macacos foram capazes de aprender sutilezas de linguagem que eram consideradas exclusivas de humanos. Quando os postulados evolutivos também não resistem muito tempo às mais recentes descobertas arqueológicas, resta uma certa perplexidade: nos sabemos humanos e tão diferentes de outros tipos de animais, mas, afinal, temos uma boa justificativa para nos colocarmos tão à parte deles?

Dados técnicos:
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
ISBN: 8535909893
ISBN-13: 9788535909890
Edição: 1ª EDICAO - 2007
Número de páginas: 200